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FAZENDO O BÁSICO E RESSIGNIFICANDO O ESSENCIAL

   Mais de 300 mil mortos no país pela COVID-19.

    Tristeza, dor, desgaste, frustração...

    Indignante?

    Com certeza.

    Mas o que eu trago dessa realidade sofrida para a minha vida, além do receio da contaminação, do medo avassalador de perder pessoas queridas, da tristeza pelas perdas, da indignação pelo descaso, da raiva pela negação, da ferocidade pela conduta do outro?

    O que eu trago?

    O que eu aprendo?

    O que eu faço com o que trouxe; com o que aprendi; com o que eu sei?

    Como eu contribuo para além da falação?

    A pandemia tem trazido muitas dificuldades, mudanças, reflexões, aprendizados, perguntas...   

    Tem-se falado muito em essencial.

    E o que é essencial?

    O que unge essencialmente a nossa vida?


    Gosto de pensar na essencialidade das coisas simples da vida:

    Ficar perto das pessoas queridas enquanto preparamos juntos a comida;

    Chupar gelo num dia de calor;

    Massagear os pés da minha mãe;

    Curtir a conversa com minha filha;

    Abraçar a foto das pessoas queridas que estão longe;

    Chorar a saudade de quem se foi;

    Meditar ao amanhecer;

    Escutar a passarada cantando;

    Observar a sombra variando com o caminhar do sol;

    Contemplar a brincadeira das nuvens se transformando ao sabor dos ventos;

    Beber água em abundância;

    Evitar o desperdício da água;

    Fazer contato com a minha espiritualidade; 

    Orar;

    Agradecer;

    Plantar;

    Trazer alimentos mais coloridos e menos processados para a alimentação;

    Partilhar o “pão”;

    Fazer a higiene das mãos;

    Doar materiais de higiene pessoal;

    Refletir sobre como levar as condições básicas de higiene, alimentação e bem-estar a quem eu puder levar;

    Abrir os braços e tomar o sol da manhã por alguns minutos;

    Observar o ar entrando e saindo pelas narinas;

    Usar a máscara corretamente;

    Diminuir o uso excessivo do carro, contribuindo para minimizar a poluição que destrói a camada natural de proteção da Terra;

    Cuidar das árvores e da vegetação que protege do excesso de sol e calor;

    Jogar o lixo na lixeira, separar os reciclados;

    Praticar atividade física, pelo simples prazer do movimento;  

    Enviar uma mensagem amorosa a uma pessoa querida;

    Fazer uma chamada de vídeo para alguém a quem eu quero bem;

    Jogar conversa fora com um amigo ou amiga;

    Escutar respeitosamente o pedido do morador de rua, fazer o que eu puder naquele momento e em outros momentos e, rever o meu fazer;

   Refletir e provocar reflexões sobre as demandas sociais, sobre a inclusão, as vulnerabilidades sociais e as minhas condutas em relação a tudo isso;

    Falar bom dia para quem passa do meu lado;

    Dar um sorriso sincero;

    Respeitar as minhas necessidades de sono;

    Evitar os excessos de luz e barulho, especialmente à noite, “cuidando” do sono do outro;

    Passear com meu cachorro;

    Recolher o cocô que ele fez na calçada...

 

    Há quem pense que isso é menor, pouco relevante; há quem diga: me poupe.

    _ Sintam-se poupadas ou poupados.

    Não quero atingir ninguém; quero oferecer. E cada um oferece o que tem para oferecer.

    Eu ofereço a minha consciência do simples e a crença na simplicidade da vida compondo a saúde;

    Eu ofereço o exercício de pensar diferente;

   Eu ofereço a minha convicção de que é preciso fazer pela qualidade da própria vida, sim; é preciso "encher a própria jarra", com algo essencialmente significativo para si mesmo, se quiser ter o que ofertar para o outro e; isso não implica passar por cima de ninguém, tampouco ser egoísta;

  Eu ofereço o direito de pensar, sentir e fazer o melhor que eu puder neste momento, e a cada momento, por mim e pelo planeta, do meu jeito, contribuindo no aqui e no agora, como eu puder.    

   É preciso ter consciência das mortes e respeito pelas vidas perdidas, mas também, determinação nas contribuições diárias.

   Esta pandemia tem evidenciado o quanto o que fazemos, ou não fazemos, interfere no outro; o quanto nossas escolhas e ações impactam em nós e no coletivo, a todo momento.

    A saúde de um é saúde para o entorno. Construir qualidade de vida e saúde para si é colaborar na saúde coletiva.

    Considero que posso fazer, sim, várias coisas pelo Planeta, diariamente, cotidianamente, mesmo não estando participando das grandes discussões, das grandes estratégias, das grandes políticas. Posso fazer muito com as minhas atitudes por mim, e pelo meu entorno. Penso que, mesmo não sendo profissional da linha de frente, neste momento, tenho possibilidade de fazer algo, fazendo por mim, fazendo pelo “nós”, fazendo por quem está próximo.

      Só pensar nas mortes, me leva à morte: à norte do meu eu, do meu fazer, do meu sentir, do meu querer, da minha alegria de viver. Só pensar nas mortes é potencializar culpa, dor, sofrimento. É isso que precisamos reiterar neste momento? Será? Pensar nas mortes, pensar na morte, pensar a morte é fundamental, mas e o que mais? Talvez, estejamos precisando, também, pensar no contraponto da morte: a vida, a qualidade da vida para nós e para todos, por direito, desejo, prazer e merecimento. 

      Pensar na morte é fundamental. Mas é preciso sair do lugar comum de culpabilização, seja do outro ou de nós mesmos, e arregaçar as mangas para fazer o que for possível, fazendo pela gente mesmo e pelo nosso entorno.

    Pensar na morte é fundamental. Mas é preciso nos permitir viver as delícias do simples, sem culpas, sem julgamentos, sem justificativas, pelo simples prazer de vive-las. Entretanto, se a gente precisar de justificativas, talvez possamos considerar o quanto essas experiências nos ajudam a: viver saúde mental na prática; resgatar sanidade e; enfrentar as turbulências do percurso.

    Pensar na morte é fundamental. Mas é preciso pensar na vida, na nossa vida, na nossa vida em comunidade, na nossa contribuição diária para a vida em sociedade, para a vida planetária.

  Com certeza, esta é uma posição política. Não uma posição política com viés partidário; longe disso, especialmente, frente à realidade política que se postula no país na atualidade. Esta é uma posição política, a minha posição política, significada na ação cidadã, que é interpretada por mim - a partir da minha bagagem, construída com cada experiência vivida - e expressada através do meu agir, a cada momento. Nem certa, nem errada, só a minha posição. 

    Sei que não vou mudar o mundo, mas, com certeza, posso contribuir na mudança de atitude, ainda que seja só com a minha.

 

Maria Tereza Naves Agrello



Imagem de Seksak Kerdkanno por Pixabay 

 

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