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Luige Bertolli

" Não percebi que eu estava a tanto tempo incomodada. "




Ouvi essa frase outro dia e ela ficou ecoando em minha cabeça.






Ontem, acordei cedo e antes de ir para o clube resolvi mexer em algumas coisas em casa.


A gravura do envelope com a rosa vermelha, ao lado da minha cama, novamente chamou minha atenção.


Ela é de uma beleza triste. Passa para mim a sensação de despedida.


Outras vezes ela já me incomodou mas por ser bonita e por ser um presente acabou ficando.


Mas agora, seu silêncio triste fez eco em minha tristeza e o incômodo retornou estrondosamente dissonante. 






Bem...


esse quadro tem uma longa história que vou tentar sintetizá-la.


Ele foi um presente do meu "ex" , antes mesmo da gente começar a namorar.
Por acaso, ele foi comprado na loja do meu irmão.
Se me lembro bem...
ele não era para mim inicialmente,
mas acabou vindo para mim.




Por que ficar tanto tempo no incômodo????
Incômodos que muitas vezes não nos damos conta deles.
Incômodos que passam a fazer parte da gente,
até um dia quando a gente acorda
e...
faz alguma coisa.






Bem...


tirei o tal quadro da parede e rapidamente coloquei outro que esse meu irmão havia pintado e que sempre me enfeitiçou. 
De uma certa forma, 
colocar essa pintura do meu irmão 
representa resgatar os tempos criativos da minha infância e início de adolescência.






Voltando ao quadro do envelope e da rosa...


Peguei o danadinho,
embalei bem embalado com jornal e fita adesiva.


Enquanto ia andando com ele nas mãos, mil pensamentos percorrem minha cabeça em fração de segundos: doá-lo, retorná-lo para o meu irmão, aproveitar a moldura para colocar uma bela foto... 


Saindo da cozinha, junta a bancada (tipo americana) que separa a cozinha da sala de jantar eu não tive mais nenhuma dúvida.


BUMMM!!!


Num rápido golpe acertei-o na quina da bancada, usando toda a minha força e descarregando mágoa, raiva e o meu incômodo.


Percebi que isso abriu a porta do meu interno. 
Eu pude ver que ainda havia muita mais mágoas louquinhas para sair. 


Mágoas...
Más-águas. Águas paradas e sem vitalidade, que com o tempo cheiram mal, apodrecidas no nosso interno.


Aquelas que estavam em mim, gritavam que já estavam prontas para retomarem sua fluência e seguirem seu curso.




A batida foi tão forte que o pacote não suportou e vários cacos de vidro caíram sobre a bancada e o chão.


 




Essa bancada também tem uma longa história.


Resumindo...


Esse meu irmão também morou nesse meu apartamento, por uns poucos anos, logo depois que casou.


Quando vim morar aqui, arrumei a disposição dos móveis da sala de jantar exatamente da mesma forma que ele havia feito, tempos antes - mesa com as cadeiras ao centro e o buffet, paralelamente a ela, encostado na parede que dá para a cozinha  (onde hoje é a bancada).


De 87 a 93 eu morei nesse apartamento sempre achando que não havia outra disposição possível para aqueles móveis.


Em 93 fui morar fora e retornei somente em 98.


Esses móveis, companheiros de outras tantas mudanças nesse período, voltaram para os mesmos lugares. 


Mas meses depois eles rebelaram-se e não quiseram mais ficar do mesmo jeito. 
Haviam passado por 5 mudanças em 5 anos, estavam diferentes. 
Não dava mais para ficar repetindo o passado, como se o presente não existisse.


Eu precisei sair daqui, voltar, repetir, para só então perceber que havia outra maneira.


Finalmente, eles ganharam novo posicionamento.


Não foram só eles que mudaram.
Minha vida também mudou.


Depois que voltei eu me separei e anos depois voltei a namorar.


Quando o namoro acabou em 2006 (ou 07) eu resolvi fazer uma grande reforma em casa.
Mudei tubulação, troquei azulejos, troquei o chão e derrubei paredes.
Uma delas foi a tal parede onde ficava o buffet , que virou essa maravilhosa pancada.


Derrubar essa parede - que não foi tão fácil quanto se imagina - derrubou também alguns antigos paradigmas meus e resgatou alguns movimentos familiares.


A cozinha passou a ser o centro.  


Cozinhar passou a ser um deleite, uma ação deliciosamente partilhada tanto à dois quanto em família.


Tempos depois retomei o namoro e muitas iguarias foram preparadas ali, 


Mais alguns poucos anos e o namoro novamente acabou.


Novas tentativas vieram, mas sem a força da raiz, não se fixaram.












Catei os cacos caídos na bancada e no chão, cuidadosamente para não me machucar. 

Limpei tudo:
gravura, cacos de vidro, moldura, mágoas, raivas ... 

Embalei novamente, agora numa sacola mais resistente, chique e bonita. 
Passei bastante fita adesiva, coloquei num saco transparente e pus no lixo.

Já era madrugada e a chuva caía forte quando os lixeiros colocaram a "Luige Bertolli" no caminhão e ligaram o compactador. 








O mais legal dessa literal explosão do quadro é que me ajudou a ver que estou fazendo nova reforma.
Agora, no meu interno.
Minha vida mudou absurdamente nos últimos meses.
Muita coisa saíu, muita coisa entrou.
Muita coisa passou, 
muita coisa marcou,
muita coisa desmanchou, 
muita coisa transbordou,
muita coisa aflorou,
muita coisa resignificou,
muita coisa clareou,
muita coisa ...


Em outras palavras...


Sou outra, com necessidades diferentes.


Logo...
 preciso de um espaço interno diferente, compatível com meu novo ser.


Então...
estou, temporariamente, fechada para reforma (rsrsrsrsr).






Augusta



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