Não é assim que se diz? Não é assim que se espera? Não é
assim que aprendemos? Não é assim que somos exigidas? Não é assim que nos
exigimos?
Na dificuldade em lidar com o prazer, exigimo-nos cada vez mais
perfeição. Perfeição nas formas, perfeição na casa, perfeição na família,
perfeição na rua, perfeição, perfeição, perfeição...
E na eterna busca da perfeição, saímos para o mercado de
trabalho, para além das portas do lar doce lar. Mas desacostumadas e descrentes
do prazer de sermos nós, muitas vezes, esquecemos do prazer de “ser” e “estar”
mulher.
Não existe corpo perfeito, nem forma perfeita. Existe o meu
corpo, o nosso corpo, a minha forma, a nossa forma no aqui e no agora. Forma
que conta de mim, que conta de nós, que diz da minha história e da história do “nós”;
da historia que foi e da que virá.
Vida é transformação. E é na constate metamorfose que ela
conquista continuidade.
A mulher que somos se transforma a cada dia. Nossos corpos
também se transformam. A história contada em nossos corpos ganha novos
capítulos a cada dia.
Que gigantesco horror é esse que as rugas e os cabelos brancos
provocam? Que pavor é esse em relação ao corpo que se transforma? Que
necessidade e essa de esconder que mais um degrau da escada da sabedoria foi
conquistado e que a bagagem da vida se tornou um pouco maior?
O elixir da juventude
esta na confiança de que é a constante transformação que faz a diferença
significativa.
Mudamos não porque perdemos a validade. Mudamos porque
ganhamos mais aprendizado. Porque evoluímos.
Envelhecer é um movimento natural e bastante saudável.
O adoecido é pensar que envelhecimento é sinônimo de incapacidade,
imobilidade, decadência e invalidez.
Seguir na trajetória natural das mudanças corporais não quer
dizer entrar num processo inevitável de desgaste e decrepitude.
Seguir na trajetória natural das mudanças corporais quer
dizer assumir um estilo de vida baseada no respeito e acolhimento das próprias
demandas e necessidades.
O decrépito desgaste não é o movimento natural da vida.
O saudável e natural é a renovação. Assim é a vida: uma
eterna possibilidade de “vir-a-ser” diferente.
É na eterna possibilidade de “vir-a-ser” que vivemos com
intensidade a mulher que somos. Porque mulher é...
Mulher é pé que apoia e sustenta, é coxa que elabora
projetos de vida. É mama que direciona o caminho.
Mulher é nuca “desejante”. É ombro que carrega o mundo, mas
também se responsabiliza pelos próprios desejos.
Mulher é pelve que acolhe a intimidade, que abriga as inúmeras
possibilidades de criação, que aconchega e resguarda a opção escolhida e que, a
partir desta decisão, viabiliza o caminhar no mundo.
Mulher é ...
a visão que vê com os olhos da
alma;
os ouvidos que escutam os sons do
universo;
a boca que degusta as delícias do
mundo;
o olfato que cheira os aromas da
sensorialidade e;
a pele que sente o contato do outro.
Mulher é corpo, mas não esse “corpo-mármore” constantemente
esculpido pelo social.
Mulher é “corpo-significado”, “corpo- significante” de vida
em mutação, vida em evolução.
Mulher é “corpo- corporeidade”. Corporeidade que é a
consciência do cosmo em nós. A inscrição do macro no micro que somos.
Mulher é “corpo-força” de organização da vida concreta. Corpo
que, como seu poder de transformação e interação, reescreve a história do
macro.
Mulher é corpo que é forma. Não uma forma qualquer, mas a
forma onde esta impressa a evolução do universo, onde esta escrito o
conhecimento da humanidade e onde esta registrada a história de nossas
experiências e vivências de cada dia.
Mulher é corpo. “Corpo
que é meu. Corpo que sou eu. Corpo que é o melhor de mim que já fiz até agora.”
Corpo que é sábio, que reconhece na sua própria formatação todo
o conhecimento que ali está inserido. Conhecimento que se expressa em nós e que
traz registros de tempos idos e de tempos que virão.
Corpo que se transforma, naturalmente, porque mutante é a
vida. Vida que é continuidade.
Enfim, mulher é forma. Forma que é o espelhamento do que
somos no aqui e agora. Forma que é o apanhado do que fomos e o projeto, mutante
e mutável, do que seremos.
Afinal, nós mulheres, somos pesquisadoras de nós mesmas,
fortes na nossa aparente fragilidade, possuidoras de uma imensa capacidade
pessoal de renovação e detentoras de um grande e peculiar potencial de
transformação do que nos cerca. Isso porque temos em nós múltiplas possibilidades de criação e a forma
mágica da curva espiralada da vida.
MATNAL
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